segunda-feira, 16 de maio de 2011

Misticismo Especulativo


O mundo que Martinho Lutero nasceu, em 1483, estava cheio de novos fenômenos religiosos. Havia novas modas teológicas e intelectuais, entre as quais uma retomada de Santo Tomás de Aquino entre os dominicanos e uma renovação do interesse em Santo Agostinho e São Paulo, influências críticas sobre a mente do próprio Lutero. Havia novos santos redescobertos, como Maria Madalena, uma fusão de Maria, irmã de Marta e de Lazaro, com a mulher de vida fácil que lavava os pés de Jesus, e que proporcionava um modelo para a reforma que exigia arrependimento pessoal dos pecados, assim como uma forma de tratar da “questão da mulher”. Havia uma devoção nova quase nova, a Santa Ana, mãe da Virgem Maria, que era favorita entre mineiros e metalúrgicos, e a quem o jovem Lutero orou quando se viu apanhado por uma violenta tempestade: “Sant’Ana, ajuda-me! Vou fazer-me monge”, sua primeira conversão. A própria Virgem nunca havia sido tão querida, com virgens de vários lugares disputando a preferência dos peregrinos. Em Regensburg, no sudeste da Alemanha, onde uma sinagoga estava sendo demolida para dar lugar a uma igreja (o anti-semitismo nunca esteve distante), houve um acidente industrial e uma cura milagrosa operada (quem mais poderia ser?) pela Virgem. Objetos e centros de devoção como esse raramente eram planejado e construído pelo que afirmavam ser responsáveis pela Igreja. Tipicamente, surgiam de “devoções” populares, freqüentemente sem controle . Por toda parte as autoridades da Igreja se envolviam em exercícios delicados de equilíbrio. O fato de que a Igreja do final da Idade Média encampasse tantas práticas que ultrapassavam o tênue limite entre “religião” e “superstição” sugere que ela já conhecia bem o popular adágio que diz: se não és capaz de vencê-los, juntar-te a eles. Os cristãos modernos podem achar mais fácil identificar-se com a reforma em termos do intenso cristocentrismo do início do século XVl e reconhecê-lo como algo que nutria a religião do reformista Martinho Lutero. Na Inglaterra, o culto do Sagrado Nome de Jesus era popular e muitas das igrejas construídas ou restauradas nesse período estão cravejadas com o monograma emblemático da Sagrado Nome, IHS. Tanto antes quanto depois da Reforma, acreditava-se que os pregadores deveriam “pregar Cristo”. Albrecht Durer não somente retratou um Cristo pungentemente sofredor em suas séries de gravuras da Paixão em madeira, nas em mais de um auto-retrato identificou-se iconograficamente com o homem Sofredor. Assim como Cristo na cruz pronunciou as palavras de um dos Salmos mais tristes (“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”), o próprio Lutero, ao fazer conferência sobre os Salmos, convidara seus ouvintes a participarem do sofrimento de Cristo: “Assim como aconteceu com Cristo, que seja comigo”. O misticismo era constante fonte de renovação, especialmente no século XlV. Embora mais tarde Lutero suspeitasse do misticismo especulativo como uma espécie de atalho e acesso ao céu feito pelo homem.

Collinson,Patrick,1ªSérie em português,2006,editora,ObjetivaLtda.
Tradução de S.Duarte
titulo original The Reformation

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