terça-feira, 24 de maio de 2011

Falso Moralismo da Reforma

No século XV todos falavam em “reforma” – uma espécie de equivalente a coisas corriqueiras como a “maternidade e o pão com manteiga”. Esse termo era freqüentemente encontrado na “fórmula da Igreja, de sua cabeça e seus membros” e nesse nível acreditava-se que o objetivo da reforma deveria ser todo o corpo da Igreja, porém mais especialmente as camadas elevadas. O escândalo do Grande Cisma sublinhou a necessidade de reforma profunda e crítica, pois durante toda uma geração (1378 – 1417) a obediência ficou dividida entre dois e à s vezes três papas diferentes. Durante setenta anos anteriores a essa época o papado não estivera localizado em Roma e sim em Avignon, sob influência predominante francesa. O luxo de Avignon, que os turistas que visitam o Palais dês Papes ainda podem conhecer, foi denunciado pelo poeta Petrarca e outros como “cativeiro babilônico”. O último papa de Avignon, Gregorio Xl, que era Frances, voltara a Roma convencido pelas suplicas de uma santa, Catarina de Siena, que se dirigia a ele como dulcíssimo babbo mio ( meu dulcíssimo paizinho). Roma procurou então recuperar para si o papado, mas a eleição de um italiano, Urbano Vl, sob pressão de uma multidão, provocou a contra-eleição de um Frances, Clemente Vll, que retornou a Avignon, As alianças estavam divididas segundo as fronteiras políticas da Europa. Como a França apoiava Clemente, a Inglaterra naturalmente se inclinou por Urbano, o que significa que a Escócia ficava com o Francês. A situação era cheia de inconvenientes práticos. Como poderia alguém ter certeza da validade de quaisquer julgamento e atos  administrativos que decidissem  a distribuição de propriedades e funções? Mas o escândalo maior era ideológico, que deixava a num a implausibilidade da reivindicação do bispo de Roma de ser o sucessor de São Pedro e vigário de Cristo na Terra. Alguns já achavam que a lógica desse impasse era que cada reino tivesse seu próprio papa. Numa série de decisões que acabaram por resolver a crise, foram feitos acordos com poderes seculares que lhes deram muitas das vantagens em termos de recursos e nomeações que Henrique Vlll da Inglaterra se arrogaria na década de 1530. Já se prenunciava o tipo de papado criado por Gregório Vll e Inocêncio lll. A longo prazo, por meio do processo quinhentista conhecido como Contra- reforma, os papas seguintes encontrariam a solução do problema criando um novo tipo de Igreja, mais separada das monarquias seculares do que havia sido o caso, enquanto os próprios pontíficies se tornavam seculares de um principado italiano de tamanho médio. (entre 1523 e 1978 não houve papas que não fossem italianos.) Em seus domínios espirituais num estado sem fronteiras e com pouco batalhões, poderiam ter a esperança de gozar de algo parecido com o mesmo poder absoluto a que aspiravam as monarquias seculares. Esse estado espiritual centralizado estava destinado a durar até o Segundo Concílio Vaticano da década de 1960, e em certos aspectos ainda convive conosco no pontificado do atual papa.




Collinson,Patrick,1ªSérie em português,2006,editora,ObjetivaLtda.
Tradução de S.Duarte
titulo original The Reformation

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